4.12.07

Manicuro

- Fez a unha, querida?
- Não... E isso é apenas meu sangue que ferve e encontrou, na ponta dos dedos, um caminho para escorrer.

15.11.07

Não existem níveis seguros para o consumo destas substâncias

Chama. Era você acender um cigarro o que me deixava louca. Publicidade de uma academia de ginástica em pura contradição.

O modo de fumar resumia todo o seu jeito cínico, ainda mais quando erguia a cabeça para soltar o ar. Marlboro entre os dedos, os braços e pernas irriquietos em movimentos que chamavam a atenção, eriçavam. Você sempre atrevido, impaciente, e o prazer do vício exalando com aquela fumaça, impregnando-se de outra forma em mim.

Eu observava cabisbaixa cada detalhe, disfarçando compulsoriamente. Enquanto olhava, me convertia no próprio ar quente que você tragava, entrava e saía do seu corpo, sujeita ao ritmo determinado pela sua vontade de sentir o gosto amargo do tabaco.

Não escondia a impaciência se você demorasse a puxar o fumo, me detia em sua boca até que a brasa luzisse e me fixava em sua expressão, presumindo a intensidade daquela golfada. Depois disso, eu já sabia se me demorava dentro de ti ou me esvaía em instantes - a fumaça solta de uma só vez para que você falasse algo. Me faltava o ar.

Eu dissimulava, mas não podia conter sorrisos. Se notasse algum detalhe novo, esperava com entusiasmo a repetição do gesto e o incluía em minha coleção, inútil como qualquer outra. Fixava cenas (a careta estranha que você fazia para soltar um restinho de ar que de vez em quando sobrava) e com elas alimentava meus pensamentos confusos, risíveis, esperançosos de você.

Tanto agito em torno do nada. Era só mais uma bituca acesa lançada ao chão. Logo a vontade chegava, você saberia como cuidar dela. Inspiros, sussuros, suspiros.

Cheguei até a perseguir os fumantes na rua, nos bares, no ponto de ônibus. Apurava o faro, respirava fundo e agradecia, em minha passividade, sua aparição.

Quando rasguei o plástico da caixa de cigarros, peguei um deles a esmo e acendi. Eu fumava com pressa, não dava nem o habitual intervalo entre as tragadas. Mesmo com a nicotina, a ansiedade não diminuía; meu batimento disparava.

Sua imagem evocada, um sabor ruim na boca, aquela a única forma de te ter? De qualquer jeito você não vinha, e me restava ficar ali, alimentando vícios.

Agora, o cheiro me dava enjôo e certo arrependimento. Mesmo tentando evitar, o fluido tinha tomado conta de cada pedaço de mim: pele, boca, mãos e cabelos. Talvez você não adivinhasse meus desejos, mas eu quis tanto, como aquela fumaça, que meu corpo sumisse no ar.

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(cachorro:- rubrica: armamento, termo de marinha - boca-de-fogo que se monta na última portinhola de vante dos navios, com artilharia disposta em bateria)


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"Amar es eso, dos corazones latiendo al compás de uno
Tanto fumar y tanto reir
y tanto mirar tu boca
¡Como quisiera ser aire, del aire que te toca!"

Jorge Drexler, Uno.


4.9.07

Eros transitório

Desejos máximos.
Duração, conteúdo e felicidade mínima...

Formato Mínimo
Samuel Rosa/Rodrigo F. Leão

Começou de súbito
A festa estava mesmo ótima
Ela procurava um príncipe
Ele procurava a próxima

Ele reparou nos óculos
Ela reparou nas vírgulas
Ele ofereceu-lhe um ácido
E ela achou aquilo o máximo

Os lábios se tocaram ásperos
Em beijos de tirar o fôlego
Tímidos, transaram trôpegos
E ávidos gozaram rápido

Ele procurava álibis
Ela flutuava lépida
Ele sucumbia ao pânico
E ela descansava lívida

O medo redigiu-se ínfimo
E ele percebeu a dádiva
Declarou-se dela o súdito
Desenhou-se a história trágica

Ele enfim dormiu apático
Na noite segredosa e cálida
Ela despertou-se tímida
Feita do desejo a vítima

Fugiu dali tão rápido
Caminhando passos tétricos
Amor em sua mente épico
Transformado em jogo cínico

Para ele uma transa típica
O amor em seu formato mínimo
O corpo se expressando clínico
Da triste solidão a rubrica

26.7.07

Oh sim, eu estou tão cansada...

Taí. Achei um texto que resume a minha condição nos últimos tempos e explica a falta de atualizações deste blog, mesmo que idéias pairem em minha cabecinha.

Eu tenho estado cansada. Foi assim durante as "férias" e será enquanto eu não tiver terminado de escrever o tcc. Bráulio Tavares explica por que, inclusive no que diz respeito ao desgate social - fato que tem me rendido melindres e muxoxos.

Fiquem com a justificativa, mais uma, se é que vocês também não cansaram.

20.5.07

Vodca, tequila, saquê...

"Todos os grandes jornalistas, como Hemingway, tomavam bebidas fortes."

Marcos Faerman

Rumo ao JUCA, não preciso dizer mais nada!

5.5.07

O quer dizer

O que quer dizer diz.
Não fica fazendo
o que, um dia, eu sempre fiz.
Não fica só querendo, querendo,
coisa que eu nunca quis.
O que quer dizer, diz.
Só se dizendo num outro
o que, um dia, se disse,
um dia, vai ser feliz.

(De Paulo Leminski para Haroldo de Campos)

16.3.07

BU(ll)SHit

A bandeira do Brasil enrolada no corpo da mulher podia parecer, à primeira vista, uma manifestação pela soberania do país, mas era só um disfarce. Por baixo do pano, literalmente, não havia nada.

A modelo-atriz, Janaína Bueno, disse que queria protestar e usou sua força maior, tirou a roupa. Só com a calcinha do biquíni e o corpo pintado com dizeres “Fora Bush” ela esperava o comboio presidencial passar.

Se visse a modelo, é provável que Bush não entendesse nada. Imaginaria estar sendo saudado com boas-vindas, cortejado diante dos atributos físicos de uma mulher, que se oferecia, nua, especialmente para ele. Toda aquela beleza exposta faria perder sentido a intenção de mostrar repulsa ao presidente norte-americano, seria antes um presente.

Parada na esquina da Avenida Luiz Carlos Berrini com a Rua Arizona, próximo ao Hotel Hilton, onde o visitante ilustre ficaria hospedado, a estratégia escolhida pela moça para a manifestação apresentava um claro paradoxo. Ao mesmo tempo em que alvejaria Bush com palavras, também lhe brindaria com seu corpo. Será que estava mesmo fazendo uso dele para uma causa maior?

Janaína foi esperta ao pensar em utilizar a aparência para conseguir chamar a atenção. No fundo, agiu como o próprio Brasil, que para atrair aos interesses externos, revela seus encantos, sejam eles a Amazônia, o etanol ou sua posição favorável para frear na América Latina uma suposta onda anti-americana.

Ingenuamente, ou só para disfarçar, o governo brasileiro diz que espera conseguir estabelecer um diálogo, um acordo conveniente para a produção e exportação do álcool e avançar na luta pela redução das barreiras comerciais nos Estados Unidos e na Europa. A comitiva de Bush não dissimula tanto, fala só em ajudas médicas e humanitárias, em uma quantia de 75 milhões de dólares para que os latino-americanos aprendam inglês.

Quando a única coisa que se tem são algumas qualidades, entregá-las em vão é burrice. Sem pudor algum, sai perdendo o país, que se rebaixa por um pouco de atenção. Da passagem de Bush o que fica é a mesma efemeridade que conseguiu Janaína. Depois não culpem aos gringos por enxergarem no Brasil um país de belezas naturais, todas ao desfrute.

Os donos das ruas

Pode ser mania de perseguição, mas quando volto para a casa dirigindo, tenho a impressão de que todos os motoqueiros buzinam bem na minha janela. Já cheguei a prestar atenção e notei, entre os intervalos de silêncio, que é invariavelmente no instante quando passam pelo meu carro que o buzinaço volta a ecoar.

Num primeiro momento, o ruído me fez cogitar a possibilidade de eu ter o costume de dirigir muito rente à pista da esquerda, mas isso não procede. Como ainda não consegui pensar em uma forma de ocupar a posição estratégica dos veículos que estão redimidos desse martírio sonoro, compartilho-o com o leitor.

O fato é que antes do congestionamento, o barulho incessante consegue me irritar mais, pois não me deixa ouvir nem meus pensamentos, quanto menos o rádio. Além disso, a atitude dos motociclistas é um tanto arrogante, como se avisassem: não ousem se mexer, fiquem onde estão, estamos chegando e as ruas são nossas.

Tudo bem que as motocicletas têm preferência, mas esse poder de infernizar o trânsito já constitui abuso. Sei da pressão que os motoboys sofrem para realizar o maior número de entregas em um mínimo de tempo e dos riscos que se sujeitam diariamente, porém a minha experiência com eles se dá em um período quando não estão mais a serviço, mas voltando para a casa. Talvez seja a pressa para chegar logo e finalmente estacionar. Quem sabe não consigam mais guiar de outra forma depois de dirigir feito loucos o dia todo.

Acontece que sou contrária ao uso da buzina, a menos em situações extremas. Logo que tirei minha habilitação evitava pressioná-la, pois, longe de um alerta, ela passou a ser utilizada como uma forma grosseira de comunicação entre os motoristas. Aceito, no máximo, um toque de leve para chamar a atenção e prefiro seu uso mais simpático – para cumprimentar alguém que avistamos na rua.

Agora que minha postura anti-ruído ficou explícita, por favor, quando passarem por um gol vermelho parado no engarrafamento da Avenida 23 de maio no fim da tarde, não buzinem. Não tenho culpa pelos motoristas incautos que atrapalham a agilidade do tráfego das motos. O trânsito paulistano é uma confusão sim, mas não é preciso extrapolar o limite e estourar o tímpano alheio.

OS QUE PASSAM GRITANDO, COMPAIXÃO POR ELES!

24.2.07

Minimalisticamente

Será?
Uma palavra que é o seu inverso.

10.2.07

Apontes sobre o ato de escrever

"não custa nada dar um precário destino às palavras, para que alcancem pelo menos o efeito plástico de um silêncio tensionado e, por um breve instante, sejam o que sonhamos que fossem."

No título desse post, um link para um artigo do poeta Cândido Rolim, publicado no Cronópios, sobre o ato de escrever. Leia mais. (rs)

1.2.07

A amora do bolo


"Não tem nenhum amor inteiro, só aos pedaços."


Foi o que eu ouvi do porteiro quando ele ligou para dizer que o bolo da doceria tinha chegado...

30.1.07

Lovefool

Sitting, Waiting, Wishing
Jack Johnson


Well I was sitting, waiting, wishing
You believed in superstitions
Then maybe you'd see the signs

But Lord knows that this world is cruel
I ain't the Lord no I'm just a fool
Learning loving somebody don't make them love you

Must I always be waiting, waiting on you?
Must I always be playing, playing your fool?

I sang your songs, I danced your dance
I gave your friends all a chance
But putting up with them wasn't worth never having you

And maybe you've been through this before
But it's my first time so please ignore
These next few lines because they're directed at you

I can't always be waiting, waiting on you
I can't always be playing, playing your fool

I keep playing your part
But it's not my scene
Want this plot to twist
I've had enough mystery

Keep building it up
But then you're shooting me down
But I'm already down
Just wait a minute

Just sitting, waitting

Just wait a minute

Just sitting, waitting

Well if I was in your position
I'd put down all my amuntintion
I'd wonder why it had taken me so long

But the Lord knows that I'm not you
and if I was I wouldn't be so cruel
cause waitin' on love ain't so easy to do

Must I always be waiting, waiting on you
Must I always be playing, playing your fool
know I can't always be waiting, waiting on you
I can't always be playing, playing your fool fool