9.9.08

O salto da macaca*

Sobre macacos, burros de carga ou pucães e os incontroláveis efeitos da tensividade somática no corpo

Há um conluio secreto entre os produtores de músicas eletrônicas e os personal trainers. Depois de me aventurar em uma aula de power jump, descobri um dos segredos dos boladinhos da musculação.

Explico: a aula consiste em dar saltos em mini camas elásticas, ao som de qualquer batida frenética. Cada música tem sua coreografia, formada por pulos diferentes – de um lado para o outro, para frente ou para trás, girando o tronco, levantando os joelhos ou calcanhares, e assim por diante. Os passos têm nomes e são gritados para indicar a mudança brusca no meio dos movimentos.

Eu me esforçava para acompanhar a professora, sem esquecer que quando ela levantava a perna esquerda eu devia mover a oposta. Ela fazia tudo aquilo sorrindo e ainda conversava. Eu, com medo de cair do trampolim no meio da aula ou de saltar de lá direto para uma maca no hospital.

De qualquer forma, consegui elaborar uma verdadeira tese sobre o motivo dos alto-falantes das academias de ginástica reproduzirem, invariavelmente, músicas “bate-estaca” (como diria minha mãe). Agora, o insight não me vem com o mesmo vigor, mas ele se resume ao fato de que apenas com um som alto e potente daqueles é possível seguir pulando feito macacos.

Da mesma forma que acontece durante os treinos de musculação, embalados por músicas eletrônicas, quando realizamos a atividade idiota de levantar peso como burros de carga. Ou nos dias e horas suportados pelos freqüentadores das raves, em geral, os mesmos marombeiros com quem compartilho minhas lutas matinais para alcançar corpos impossíveis, livres de gorduras trans e celulites acumuladas.

Na verdade, devo ter lembrado de uma aula sobre tensividade somática que tive na faculdade e atei os raciocínios. A música empolga, o corpo parece querer se adequar à pulsação dos temas melódicos e o coração àquele ritmo desenfreado. Você finge que está gostando e vai, como diria uma das máximas da Bateria do Pucão.

Frase que, aliás, não é repetida em vão. Há bombadinhos na Bateria, “esses publicitários que andam de regata, só querem ouvir Psy e tomar energéticos”, como ouvi um colega do jornalismo comentar certa vez.

E a batucada do samba produz o mesmo efeito que a batida eletrônica. De repente, te deixa eufórica, com vontade de botar abaixo o chão. O ímpeto é suficiente para ter reações que não seriam as esperadas nos seus estados normais de sístole e diástole.

Você tem certeza do ridículo da situação, mas faz mesmo assim. Como naquela aula.

Empapada de suor, vermelhíssima, cansada de tentar entrar na dança, sem ar e com a boca seca, eu olhava no relógio e me prometia não voltar nunca mais. Mas no final, já conseguia gostar.

Depois que acabou, lembrando, tive vontade de fincar outra vez os pés no elástico e pular com toda força, só me preocupando em acompanhar a seqüência, deixando no ar todas as trocentas coisas que passam em minha cabeça a cada segundo do dia-a-dia. Inclusive as teses mirabolantes e as teorias conspiratórias.

* Em referência às minhas colegas de trabalho, autoras de blog homônimo.

5.9.08

Contando carneirinhos

Aunque me llames
Aunque vayamos al cine
Aunque reclames
Aunque ese amor no camine
Aunque eran planes
Y hoy yo lo siento
si casi nada quedo
Fue solo un cuento
Fue nuestra historia de amor
No te voy a decir si fue lo mejor

Pues,

Solo quiero saber lo que puede dar cierto
No tengo tiempo a perder

(Go Back - Fito Paez)