16.3.07

BU(ll)SHit

A bandeira do Brasil enrolada no corpo da mulher podia parecer, à primeira vista, uma manifestação pela soberania do país, mas era só um disfarce. Por baixo do pano, literalmente, não havia nada.

A modelo-atriz, Janaína Bueno, disse que queria protestar e usou sua força maior, tirou a roupa. Só com a calcinha do biquíni e o corpo pintado com dizeres “Fora Bush” ela esperava o comboio presidencial passar.

Se visse a modelo, é provável que Bush não entendesse nada. Imaginaria estar sendo saudado com boas-vindas, cortejado diante dos atributos físicos de uma mulher, que se oferecia, nua, especialmente para ele. Toda aquela beleza exposta faria perder sentido a intenção de mostrar repulsa ao presidente norte-americano, seria antes um presente.

Parada na esquina da Avenida Luiz Carlos Berrini com a Rua Arizona, próximo ao Hotel Hilton, onde o visitante ilustre ficaria hospedado, a estratégia escolhida pela moça para a manifestação apresentava um claro paradoxo. Ao mesmo tempo em que alvejaria Bush com palavras, também lhe brindaria com seu corpo. Será que estava mesmo fazendo uso dele para uma causa maior?

Janaína foi esperta ao pensar em utilizar a aparência para conseguir chamar a atenção. No fundo, agiu como o próprio Brasil, que para atrair aos interesses externos, revela seus encantos, sejam eles a Amazônia, o etanol ou sua posição favorável para frear na América Latina uma suposta onda anti-americana.

Ingenuamente, ou só para disfarçar, o governo brasileiro diz que espera conseguir estabelecer um diálogo, um acordo conveniente para a produção e exportação do álcool e avançar na luta pela redução das barreiras comerciais nos Estados Unidos e na Europa. A comitiva de Bush não dissimula tanto, fala só em ajudas médicas e humanitárias, em uma quantia de 75 milhões de dólares para que os latino-americanos aprendam inglês.

Quando a única coisa que se tem são algumas qualidades, entregá-las em vão é burrice. Sem pudor algum, sai perdendo o país, que se rebaixa por um pouco de atenção. Da passagem de Bush o que fica é a mesma efemeridade que conseguiu Janaína. Depois não culpem aos gringos por enxergarem no Brasil um país de belezas naturais, todas ao desfrute.

Os donos das ruas

Pode ser mania de perseguição, mas quando volto para a casa dirigindo, tenho a impressão de que todos os motoqueiros buzinam bem na minha janela. Já cheguei a prestar atenção e notei, entre os intervalos de silêncio, que é invariavelmente no instante quando passam pelo meu carro que o buzinaço volta a ecoar.

Num primeiro momento, o ruído me fez cogitar a possibilidade de eu ter o costume de dirigir muito rente à pista da esquerda, mas isso não procede. Como ainda não consegui pensar em uma forma de ocupar a posição estratégica dos veículos que estão redimidos desse martírio sonoro, compartilho-o com o leitor.

O fato é que antes do congestionamento, o barulho incessante consegue me irritar mais, pois não me deixa ouvir nem meus pensamentos, quanto menos o rádio. Além disso, a atitude dos motociclistas é um tanto arrogante, como se avisassem: não ousem se mexer, fiquem onde estão, estamos chegando e as ruas são nossas.

Tudo bem que as motocicletas têm preferência, mas esse poder de infernizar o trânsito já constitui abuso. Sei da pressão que os motoboys sofrem para realizar o maior número de entregas em um mínimo de tempo e dos riscos que se sujeitam diariamente, porém a minha experiência com eles se dá em um período quando não estão mais a serviço, mas voltando para a casa. Talvez seja a pressa para chegar logo e finalmente estacionar. Quem sabe não consigam mais guiar de outra forma depois de dirigir feito loucos o dia todo.

Acontece que sou contrária ao uso da buzina, a menos em situações extremas. Logo que tirei minha habilitação evitava pressioná-la, pois, longe de um alerta, ela passou a ser utilizada como uma forma grosseira de comunicação entre os motoristas. Aceito, no máximo, um toque de leve para chamar a atenção e prefiro seu uso mais simpático – para cumprimentar alguém que avistamos na rua.

Agora que minha postura anti-ruído ficou explícita, por favor, quando passarem por um gol vermelho parado no engarrafamento da Avenida 23 de maio no fim da tarde, não buzinem. Não tenho culpa pelos motoristas incautos que atrapalham a agilidade do tráfego das motos. O trânsito paulistano é uma confusão sim, mas não é preciso extrapolar o limite e estourar o tímpano alheio.

OS QUE PASSAM GRITANDO, COMPAIXÃO POR ELES!