14.9.09

Léxico

Aprender palavras é a algo mágico, mas depois dos seis anos não tem tanto brilho. Somamos uma expressão aqui com outra acolá, uma gíria ao jeito de falar de alguém que admiramos, aquele palavrão perfeito para o momento do tropeção e aí está o nosso curto léxico.

Há ocasiões em que palavras já conhecidas começam a fazer parte da nossa vida. Por exemplo: namorado. Não que eu nunca tivesse usado esse verbete antes, mas o pronome possessivo "meu" faz toda a diferença em seu sentido. Antes, era "namorado de" ou mera acepção à condição
de alguém, usado em textos ou para designar um indivíduo.

Mas quando a palavra se refere à você, tudo muda. Para começar, duvido alguém dizer essa expressão no início do namoro sem esboçar ao menos um sorriso. É estranho, quando não se tem o costume, se ouvir dizendo "meu namorado", porque não é apenas a enunciação que é nova em nosso vocabulário, mas toda a situação que ela implica.

E daí, quando você diz "namorado" e se refere ao seu parceiro, a simples pronúncia suscita uma série de lembranças e sensações, como o primeiro beijo de vocês, aqueles arrepios que não são de febre e começam na barriga e um calorzinho no peito, lá de onde bate a percussão da vida.

Então, chega a hora de apresentar a pessoa aos amigos.
Você enche a boca e diz: "Meu namorado". Para conhecidos, que você cruza na rua, faz questão de frisar: "meu namorado". Em outros momentos, o silêncio diz mais, como na hora de apresentar o pretendente aos pais, quando tudo aquilo é óbvio e um hora teria que acontecer - "é claro, ele é seu namorado", ecoam em silêncio.

A velha-nova expressão paira ao ser pronunciada
. Se é escrita, solidifica. A letra recupera o seu poder. Por alguns instantes, sentimos o sabor da palavra em sua materialização plena e, nesse caso, o gostinho faz lembrar um beijo.