Acho que quando nos conhecemos, me entreguei à melodia e parei de perceber a letra das canções. De qualquer forma ela ecoava e eu podia ter lido a mensagem que se desenhava ao redor de nós. Agora, olhos e ouvidos bem apurados, entendo. Desde o começo foi Vinicius.
Em contraponto, suas palavras eram perguntas e lasseios; não me deixavam fugir. Atrás vinha seu corpo, me cercando, cada vez mais próximo, até que tuas mãos foram minhas com calma. Um canto sussurrado me arrebatou. Ele falava de um homem traidor, que tem medo de sofrer e por isso não sabe amar. Mas era muito tarde para eu prestar atenção às frases. Deixei.
Outro instante, tivesse reparado na nossa trilha sonora, saberia que quem diz muito que vai, não vai, e evitaria certas ilusões. Porém, essa parece ser a regravação da história de um amor que passa, mas que é infinito enquanto dura.
Como naquela noite vazia, quando minha descrença em ti não foi bastante diante da voz do poeta, que sugeria que eu me entregasse. Depois, cansada dos meus descaminhos, confesso que morri de arrependimento. Só que você voltou e o que era errado se justificou por parecer verdadeiro.
Foi então que da minha infinita tristeza aconteceu você. Minha alegria balançava num sofrimento, envolvia-se da agonia que me obrigava a te pedir o fim da saudade. Você, carinhoso, atendia, até decidir não aparecer mais.
Passei a torcer para que você voltasse depressa, mas era inútil fingir. Ah, insensatez, agora eu me machucava. As sensações se alternavam: mágoa demais para um coração e vontade de ver renascer nossa vida. Ao mesmo tempo, tentava adivinhar por onde andava você e quando nada mais acontecia, eu só te esperava para dizer adeus.
À espera do que não vem, eu pensei demais. Sofri e cansei de procurar as razões para que tudo tivesse terminado assim. Nem mais sabia quem era você e, no entanto, dependia de seus versos e de um antigo refrão. Eu escutava o silêncio.
Voltei àquelas músicas (elas não me abandonavam como você, que apenas surgia em alguns acordes). Daí Vinicius me revelou ainda mais o quanto eu gostava de ti.
Doía. Era certo doer. A angústia comprovava, mesmo que eu quisesse, não conseguiria negar o que tinha sido tão bom.
Você e o poeta, não por acaso, me deixavam a mesma lição de vida. Ela se resumia à coragem de entregar-se intensamente, na certeza de que tudo seria o que tinha de ser.
Por sua causa, Vinicius me ensinou a aceitar a emoção inevitável e me impediu de odiar o amor.
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Em contraponto, suas palavras eram perguntas e lasseios; não me deixavam fugir. Atrás vinha seu corpo, me cercando, cada vez mais próximo, até que tuas mãos foram minhas com calma. Um canto sussurrado me arrebatou. Ele falava de um homem traidor, que tem medo de sofrer e por isso não sabe amar. Mas era muito tarde para eu prestar atenção às frases. Deixei.
Outro instante, tivesse reparado na nossa trilha sonora, saberia que quem diz muito que vai, não vai, e evitaria certas ilusões. Porém, essa parece ser a regravação da história de um amor que passa, mas que é infinito enquanto dura.
Como naquela noite vazia, quando minha descrença em ti não foi bastante diante da voz do poeta, que sugeria que eu me entregasse. Depois, cansada dos meus descaminhos, confesso que morri de arrependimento. Só que você voltou e o que era errado se justificou por parecer verdadeiro.
Foi então que da minha infinita tristeza aconteceu você. Minha alegria balançava num sofrimento, envolvia-se da agonia que me obrigava a te pedir o fim da saudade. Você, carinhoso, atendia, até decidir não aparecer mais.
Passei a torcer para que você voltasse depressa, mas era inútil fingir. Ah, insensatez, agora eu me machucava. As sensações se alternavam: mágoa demais para um coração e vontade de ver renascer nossa vida. Ao mesmo tempo, tentava adivinhar por onde andava você e quando nada mais acontecia, eu só te esperava para dizer adeus.
À espera do que não vem, eu pensei demais. Sofri e cansei de procurar as razões para que tudo tivesse terminado assim. Nem mais sabia quem era você e, no entanto, dependia de seus versos e de um antigo refrão. Eu escutava o silêncio.
Voltei àquelas músicas (elas não me abandonavam como você, que apenas surgia em alguns acordes). Daí Vinicius me revelou ainda mais o quanto eu gostava de ti.
Doía. Era certo doer. A angústia comprovava, mesmo que eu quisesse, não conseguiria negar o que tinha sido tão bom.
Você e o poeta, não por acaso, me deixavam a mesma lição de vida. Ela se resumia à coragem de entregar-se intensamente, na certeza de que tudo seria o que tinha de ser.
Por sua causa, Vinicius me ensinou a aceitar a emoção inevitável e me impediu de odiar o amor.
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
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