3.5.09

Usura da verdade

"Por que foi que aquela criatura não procedeu com franqueza? Devia ter-me chamado e dito: - 'Luís, vamos acabar com isto? Pensei que gostava de você, enganei-me, estou embeiçada por outro. Fica zangado comigo?’ E eu teria respondido: - ‘Não fico não, Marina. Você havia de casar contra a vontade? Seria um desastre. Adeus. Seja feliz’. Era o que eu teria dito. Sentiria despeito, mas nenhuma desgraça teria acontecido. Lembrar-me-ia de Marina com vaidade, até com orgulho: - ‘Sim senhor, gostei de uma mulher de caráter, mulher de cabelo na venta’. Não seria esta miséria, esta recordação de coisas mesquinhas.”

Angústia
Graciliano Ramos

Nenhum comentário: