6.11.08
2.11.08
Desacordo
- Vou sair com a Luana.
- Aquela debilóide? Só podia ser, está colocando minhocas na sua cabeça...
- Ela é uma superamiga.
- Mas você não acha que esta roupa está curta demais?
- O quê? É só uma minissaia...
- Deixa-me corrigir: um pedaço de pano.
- A mamãe apoia a evolução dos costumes.
- Eu queria saber o que sua avó diria disso...
- A veia da vovó tá entupida. Ela não diria nada.
- Janaína, olha aqui, que menina malcriada!
- A culpa é dessas ideias que o senhor ainda tem!
- Isto é um contra-senso! Vocês crêem que eu seja culpado por esses abusos?
- Para com essa paranoia, papai. Eu te perdoo, entendo sua preocupação...
- Lógico, com tanto delinqüente solto por aí!
- Basta confiar na minha autoproteção!
- Como eu posso ficar tranqüilo, meu Deus, com essa menina saindo de pernas de fora?!
- Olha, só tem um jeito de falarmos a mesma língua: o senhor tem que aceitar que eu cresci, os tempos são outros.
- Que nada, a verdade é que tudo o que a gente ensinou, agora você renega. Ninguém agüenta tanto desaforo!
20.10.08
Ilusões em alta
Depois de anos rejeitando o noticiário financeiro, de repente me vi agarrada a essas páginas, na tentativa de entender a tal crise e administrar outras. Lia o jornal grifando parágrafos e com um dicionário de “economês” aberto. Acompanhava o desempenho da Bolsa, reparando menos nos índices, do que no limitado vocabulário usado para descrevê-los (derrete - despenca - desaba - cai - oscila - sobe - salta - avança - dispara).
Assim, já compreendia um pouco da lógica dos mercados, se é que eles têm alguma, que não seja a busca incessante dos lucros. A gradual familiarização com os temas me impressionava e divertia, como quando descobri a existência do “circuit breaker” :
Quando deixei em casa o caderno de Cultura e levei o de Economia, percebi que tinha tomado gosto pelo assunto. E foi graças a isso que encontrei certo domingo, nas páginas de Economia & Negócios do Estadão, um texto do escritor peruano Mario Vargas Llosa sobre a turbulência global.
Em Capitalismo fora dos trilhos, Llosa traz a literatura para o debate econômico e atenta para o caráter ficcional assumido pelos mercados nos últimos anos. Segundo ele, a economia dos países ocidentais teria perdido o vínculo com a realidade, uma vez que bancos, imobiliárias, financeiras, seguradoras e credores alimentaram um ciclo de mentiras para que o sistema funcionasse.
O caos financeiro se perpetuou pela falta de confiança. Diante de taxas, transações e devedores ilusórios, o investidor se retraiu, sem saber como é mais seguro movimentar suas ações. Dar crédito é enxergar veracidade no outro, crer que ele será capaz de honrar seus compromissos, e tudo o que temos agora é a ausência de garantias. O travamento do crédito foi, portanto, prático e literal.
Me deliciei com as palavras de Llosa, porque sempre achei todos os pregões um auto-engano. A começar pelo fato de negociarem com quantias de dinheiro impalpáveis, que não existiriam, caso fosse necessário colocá-las diante dos olhos. Além disso, me incomoda saber que são esses números irreais que determinam a vida neste planeta.
O argumento do artigo me remeteu a outro ensaio do mesmo autor, no livro A verdade das mentiras. Ali, ele considera se o que se escreve em literatura é verdade ou não e explica que os romances mentem, mas dessa forma expressam verdades que não seriam acessíveis de outra maneira.
Na literatura, irrealidade e mentira são veículos para um conhecimento profundo, que permaneceria recôndito na racionalidade cotidiana. Ao construir universos imaginários, os textos literários refazem a realidade (assunto não para um post, mas sim para outro TCC, quem sabe uma tese de mestrado).
Entretanto, o próprio escritor conclui no Estadão: “fora do romance e da arte, viver na ficção, seja na política ou na economia, é um suicídio”. Foi o que aconteceu nos EUA. É o que fazemos tantas vezes, em tempos de desancanto, quando sustentamos farsas que nos condenam a falências interiores.
A ficção literária é mais enriquecedora do que a praticada pelo bancos. Ela nos liberta, ordena artificialmente nosso mundo, proporciona um refúgio aos desejos e temores que a vida incita. “É uma arte de sociedades em que a fé experimenta alguma crise, em que faz falta crer em algo”, diz Llosa.
Para combater o desespero da alta do dólar e da queda da Bolsa, sugiro um investimento rentável: compre um livro. É assim com qualquer crise que se instala mim. Peço socorro à literatura e não arrisco, invisto no Caderno 2.
16.10.08
Trilha sonora
Em contraponto, suas palavras eram perguntas e lasseios; não me deixavam fugir. Atrás vinha seu corpo, me cercando, cada vez mais próximo, até que tuas mãos foram minhas com calma. Um canto sussurrado me arrebatou. Ele falava de um homem traidor, que tem medo de sofrer e por isso não sabe amar. Mas era muito tarde para eu prestar atenção às frases. Deixei.
Outro instante, tivesse reparado na nossa trilha sonora, saberia que quem diz muito que vai, não vai, e evitaria certas ilusões. Porém, essa parece ser a regravação da história de um amor que passa, mas que é infinito enquanto dura.
Como naquela noite vazia, quando minha descrença em ti não foi bastante diante da voz do poeta, que sugeria que eu me entregasse. Depois, cansada dos meus descaminhos, confesso que morri de arrependimento. Só que você voltou e o que era errado se justificou por parecer verdadeiro.
Foi então que da minha infinita tristeza aconteceu você. Minha alegria balançava num sofrimento, envolvia-se da agonia que me obrigava a te pedir o fim da saudade. Você, carinhoso, atendia, até decidir não aparecer mais.
Passei a torcer para que você voltasse depressa, mas era inútil fingir. Ah, insensatez, agora eu me machucava. As sensações se alternavam: mágoa demais para um coração e vontade de ver renascer nossa vida. Ao mesmo tempo, tentava adivinhar por onde andava você e quando nada mais acontecia, eu só te esperava para dizer adeus.
À espera do que não vem, eu pensei demais. Sofri e cansei de procurar as razões para que tudo tivesse terminado assim. Nem mais sabia quem era você e, no entanto, dependia de seus versos e de um antigo refrão. Eu escutava o silêncio.
Voltei àquelas músicas (elas não me abandonavam como você, que apenas surgia em alguns acordes). Daí Vinicius me revelou ainda mais o quanto eu gostava de ti.
Doía. Era certo doer. A angústia comprovava, mesmo que eu quisesse, não conseguiria negar o que tinha sido tão bom.
Você e o poeta, não por acaso, me deixavam a mesma lição de vida. Ela se resumia à coragem de entregar-se intensamente, na certeza de que tudo seria o que tinha de ser.
Por sua causa, Vinicius me ensinou a aceitar a emoção inevitável e me impediu de odiar o amor.
Soneto de separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
13.10.08
Cachorro em pêlo de carneiro
A relação escorre. Sua razão de ser se basta no encontro de desejos esbaforidos. Horas depois, cada uma das partes sorri, agradece e se despede. Contente. Sem mais.
Gosto dos sinceros que terminam a noite dizendo: “não sou homem de namorinho". Arrancam desde a raiz a erva daninha da ilusão, impedem que ela se alastre, para não precisar derramar suor limpando o terreno.
Eles não ligam, não deixam mensagens, jamais são gentis. O que é perfeito, pois ninguém tem obrigação de nada, muito menos de ser uma boa pessoa.
Dispenso os covardes que não se assumem como os cachorros que são. Lembram da irmã em casa e, com receio, tentam “apenas” ser legais. Disfarçam ao desempenhar um papel adulto e aprontam molecagens. Ou agem cinicamente, comentam a alta do dólar e somem, evitando indelicadezas necessárias.
Quero corpos grandes e ocos. Pois nada do que eles disserem será capaz de me entusiasmar. O contato se manterá na superfície e depois de um bom banho estarei pronta para outra vez, imune a qualquer arrebatamento.
9.9.08
O salto da macaca*
Há um conluio secreto entre os produtores de músicas eletrônicas e os personal trainers. Depois de me aventurar em uma aula de power jump, descobri um dos segredos dos boladinhos da musculação.
Explico: a aula consiste em dar saltos em mini camas elásticas, ao som de qualquer batida frenética. Cada música tem sua coreografia, formada por pulos diferentes – de um lado para o outro, para frente ou para trás, girando o tronco, levantando os joelhos ou calcanhares, e assim por diante. Os passos têm nomes e são gritados para indicar a mudança brusca no meio dos movimentos.
Eu me esforçava para acompanhar a professora, sem esquecer que quando ela levantava a perna esquerda eu devia mover a oposta. Ela fazia tudo aquilo sorrindo e ainda conversava. Eu, com medo de cair do trampolim no meio da aula ou de saltar de lá direto para uma maca no hospital.
De qualquer forma, consegui elaborar uma verdadeira tese sobre o motivo dos alto-falantes das academias de ginástica reproduzirem, invariavelmente, músicas “bate-estaca” (como diria minha mãe). Agora, o insight não me vem com o mesmo vigor, mas ele se resume ao fato de que apenas com um som alto e potente daqueles é possível seguir pulando feito macacos.
Da mesma forma que acontece durante os treinos de musculação, embalados por músicas eletrônicas, quando realizamos a atividade idiota de levantar peso como burros de carga. Ou nos dias e horas suportados pelos freqüentadores das raves, em geral, os mesmos marombeiros com quem compartilho minhas lutas matinais para alcançar corpos impossíveis, livres de gorduras trans e celulites acumuladas.
Na verdade, devo ter lembrado de uma aula sobre tensividade somática que tive na faculdade e atei os raciocínios. A música empolga, o corpo parece querer se adequar à pulsação dos temas melódicos e o coração àquele ritmo desenfreado. Você finge que está gostando e vai, como diria uma das máximas da Bateria do Pucão.
Frase que, aliás, não é repetida em vão. Há bombadinhos na Bateria, “esses publicitários que andam de regata, só querem ouvir Psy e tomar energéticos”, como ouvi um colega do jornalismo comentar certa vez.
E a batucada do samba produz o mesmo efeito que a batida eletrônica. De repente, te deixa eufórica, com vontade de botar abaixo o chão. O ímpeto é suficiente para ter reações que não seriam as esperadas nos seus estados normais de sístole e diástole.
Você tem certeza do ridículo da situação, mas faz mesmo assim. Como naquela aula.
Empapada de suor, vermelhíssima, cansada de tentar entrar na dança, sem ar e com a boca seca, eu olhava no relógio e me prometia não voltar nunca mais. Mas no final, já conseguia gostar.
Depois que acabou, lembrando, tive vontade de fincar outra vez os pés no elástico e pular com toda força, só me preocupando em acompanhar a seqüência, deixando no ar todas as trocentas coisas que passam em minha cabeça a cada segundo do dia-a-dia. Inclusive as teses mirabolantes e as teorias conspiratórias.
* Em referência às minhas colegas de trabalho, autoras de blog homônimo.
5.9.08
Contando carneirinhos
Aunque vayamos al cine
Aunque reclames
Aunque ese amor no camine
Aunque eran planes
Y hoy yo lo siento
si casi nada quedo
Fue solo un cuento
Fue nuestra historia de amor
No te voy a decir si fue lo mejor
Pues,
Solo quiero saber lo que puede dar cierto
No tengo tiempo a perder
(Go Back - Fito Paez)
3.9.08
11.8.08
Cartas marcadas
Jogo de amar
Se na rodada der uma zebra,
só salva um blefe na mesa
O M vira Z
E o jogo, de azar
Quem gosta, aposta
(e vicia)
na pessoa oposta
Embaralhado destino
Valete Copas Dama
Sorte ou Desatino?
5.8.08
Clara Clarice
Seu trabalho passa por uma lógica transformadora, em que as inquietações pessoais tornam-se temas de interesse universal. A particularidade dos fatos narrados serve à construção de uma mensagem intensa e íntegra, que não se perde em confissões egoístas. O conteúdo é moldado com a ajuda de personagens literárias que deixam de ser a autora, ao mesmo tempo em que a apresentam nua, sincera no texto.
Em Para não esquecer, Clarice consegue evocar uma realidade profunda quando escreve sobre temas como Brasília, acontecimentos domésticos, a relação com a literatura. O que constrange diante do informalismo dos assuntos tratados é a quantidade de mistérios presentificados, como se um brilho secreto dos fatos do dia-a-dia se espalhasse em cada fragmento do livro.
Clarice se propõe a falar de banalidades que, entretanto, nada têm de simples, porém, não se trata de um esforço em desvelar o estado supremo das coisas. Esses indícios mágicos que sobram derivam do tipo de sentimento apresentado, da condição humana relatada.
Não é o objetivo primordial de sua escritura expor o inominável. A prosa de Clarice é fiada porque ela tem consciência da impossibilidade de alcançar a entrelinha, local em que reside o encantamento da literatura. Mas não há escolha diante da inevitável condição de alguém que existe para a escrita.
É percebendo essa fragilidade que me pego surpresa. Compartilho, admirada, (sabendo, é claro, o meu lugar) o embate entre a necessidade e a dificuldade de expressão, tensão constante para todo ser que se arrisca a escrever.
No final, Clarice consegue transpor barreiras. Tentativa atrás de tentativa, sem dar nome ao que não tem nome, mas tornando a experiência real por meio das palavras. O que respinga no leitor, perturba e acomoda. A clareza existe, a mensagem pulsa.
“E como se isso não bastasse, infelizmente não sei “redigir”, não consigo “relatar” uma idéia, não sei “vestir uma idéia com palavras”. O que vem à tona já vem com ou através de palavras, ou não existe. – Ao escrevê-lo, de novo a certeza só aparentemente paradoxal de que o que atrapalha ao escrever é ter de usar palavras. É incômodo. Se eu pudesse escrever por intrmétido de desenhar na madeira ou de alisar uma cabeça de menino ou de passear pelo campo, jamais teria entrado pelo caminho das palavras. Faria o que tanta gente que não escrever faz e exatamente com a mesma alegria e o mesmo tormento de quem escrever, e com as mesmas profundas decepções inconsoláveis: não usaria palavras. O que pode vir a ser minha solução. Se for, bem-vinda.”
“Para passar de palavra a seu sentido, destrói-se em estilhaços”
“Mas já que se há de escrever, que ao menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.”
“Escrever é tantas vezes lembrar-se do que nunca existiu. Como conseguirei saber de que nem ao menos sei? assim: como se me lembrasse. Com um esforço de ‘memória’, como se eu nunca tivesse nascido. Nunca nasci, nunca vivi: mas eu me lembro, e a lembrança é em carne viva.”
“Essa incapacidade de atingir, de entender, é que faz com que eu, por instinto de... de quê? Procure um modo de falar que me leve mais depressa ao entendimento. Esse modo, esse ‘estilo’ (!), já foi chamado de várias coisas, mas não do que realmente e apenas é: uma procura humilde. Nunca tive um só problema de expressão, meu problema é muito mais grave: é o de concepção.”
“Minhas intuições se tornam mais claras ao esforço de transpô-las em palavras. É nesse sentido, pois, que escrever me é uma necessidade. De um lado, porque escrever é um modo de não mentir o sentimento (a transfiguração involuntária da imaginação é apenas um modo de chegar); de outro lado, escrevo pela incapacidade de entender, sem ser através do processo de escrever. Se tomo um ar hermético, é que não só o principal é não mentir o sentimento como porque tenho incapacidade de transpô-lo de um modo claro sem que o minta – mentir o pensamento seria tirar a única alegria de escrever. Assim, tantas vezes tomo um ar involuntariamente hermético, o que acho bem chato nos outros. Depois da coisa escrita, eu poderia friamente torná-la mais clara? Mas é que sou obstinada. E por outro lado, respeito uma certa clareza peculiar ao mistério natural, não substituível por clareza outra nenhuma. E também porque acredito que a coisa se esclarece sozinha com o tempo: assim como num copo dágua, uma vez depositado no fundo o que quer que seja, a água fica clara. Se jamais a água ficar limpa, pior para mim. Aceito o risco. Aceitei risco bem maior, como todo mundo que vive. E se aceito o risco não é por liberdade arbitrária ou inconsciência ou arrogância: a cada dia que acordo, por hábito até, aceito o risco. Sempre tive um profundo senso de aventura, e a palavra profundo está aí querendo dizer inerente. Este senso de aventura é o que me dá o que tenho de aproximação mais isenta e real em relação a viver e, de cambulhada, a escrever.”
“Ah, meu Deusinho, me dá um substantivinho, pelo amor de Deus! Ah, não quer dar? então faz de conta que eu nada falei. Sei perder.”
“Palavras são pedras duras e as sensações delicadíssimas, fugazes, extremas.”
“Nem tudo quer dizer alguma coisa (isso é tão importante como o oposto).”
“O processo de escrever é feito de erros – a maioria essenciais – de coragem e preguiça, desespero e esperança, de vegetativa atenção, de sentimento constante (não pensamento) que não conduz a nada, não conduz a nada, e de repente aquilo que se pensou que era “nada” era o próprio assustador contato com a tessitura de viver – e esse instante de reconhecimento, esse mergulhar anônimo na tessitura anônima, esse instante de reconhecimento (igual a uma revelação) precisa ser recebido com a maior inocência, com a inocência de que se é feito. O processo de escrever é difícil? Mas é como chamar de difícil o modo extremamente caprichoso e natural como uma flor é feita. (Mamãe, me disse o menino, o mar está lindo, verde e com azul, e com ondas! Está todo anaturezado! todo sem ninguém ter feito ele!) A impaciência enorme ao trabalhar (ficar de pé junto da planta para vê-la crescer e não se vê nada) não é em relação à coisa propriamente dita, mas à paciência monstruosa que se tem (a planta cresce de noite). Como se se dissesse: “não suporto um minuto mais ser tão paciente”, “a paciência do relojoeiro me enerva”, etc. O que impacienta mais é a pesada paciência vegetativa, boi servindo ao arado.”
Para não esquecer
Clarice Lispector
Rocco
17.7.08
16.7.08
Flor da braquiara
1.7.08
Mela-cueca
Chega de fazer papel de carente, que o amor da gente tá de castigo
Tá faltando sentimento. E a gente já não rola há muito tempo...
Eu sou aventureiro e você não merece isso, eu tô comprometido em me amarrar jamais
É, quando um não quer dois nunca formam um casal
Aliás, eu tenho medo de sofrer
Não, não tem outro jeito já que está ficando sério
Antes que seja tarde então vamos parar com isso
Valeu demais a nossa experiência. É só botar a mão na consciência, não tava dando pra continuar
Valeu tudo. Em nome dessa nossa amizade, temos que encarar a realidade, o que não é pra ser deixa pra lá
Eu to mal só de pensar que vai doer
Eu te avisei, no coração eu tinha mais alguém
O meu desejo é de me entregar à você. Mas tenho medo, de me apaixonar e sofrer
Peço, por favor, não se apaixone, pois não sou aquele homem que um dia o seu pai sonhou
Somos muito diferentes um do outro. Já tentei de tudo, mas você me estressa
Eu só tenho cara de santinho, sempre faço com jeitinho. Coitada de quem acreditou!
Não precisa nem me avisar, eu já me liguei no seu jogo. Só vou esperar dar a hora pro nosso amor pegar fogo
Eu prometo te dar carinho, mas gosto de ser sozinho, livre pra voar
Deixar rolar... Qual é o fim o tempo vai dizer
Não vá chorar, se no final eu não te escolher
Sei que você também não se esquece do primeiro beijo naquele lugar
Tudo aconteceu naturalmente, meio escondido não dá pra negar. Mas o que existe entre a gente, fica em segredo pode confiar
Eu não tô ligando pra ninguém, deixa a galera comentar
Quem sabe um outro dia a gente possa se encontrar de novo
Por que você me fez ficar apaixonado? Eu nem sei dizer se sou seu namorado ou só um ficante, um romance qualquer
Deixa o compromisso pra depois e vamos viver essa fantasia
Quero preservar essa paixão, que está aumentando a cada dia
Eu vou correndo te ver e pro meu carro te amar. (Daquele jeito, que só eu faço, que você gosta e pede mais. Diz que nunca encontrou alguém como eu)
Se você quer me ter pra matar seu desejo, pode esquecer, eu não sou seu brinquedo
Ou você é louca ou não sabe o que quer!
27.6.08
20.6.08
Ahhh, a publicidade...
- É, o feedback foi positivo sim...
- Mas passa a ficha técnica, pô! Essas suas estratégias...
- Cê tá querendo que eu te passe o briefing? [rs]
- Tô sussa, só querendo entender como um tipo feito você tem esses contatos de potencial.
- É a imagem né, hehehe. Tem que persuadir.
- Mas foi um reposicionamento, não? Você já tinha explorado esse mercado em outro job.
- Sou fornecedor sim...
- Eu não sabia que a duração era full time...
- Não viaja, é bem de consumo imediato mesmo. Só atendo conta assim.
- Rolou um recall, então?
- É...eu tava prospectando, daí senti o feeling. O momento era totalmente propício pra fazer uma nova abordagem.
- Tranqüilo, você teve um insight, agilizou o que causaria impacto e focou no layout.
- Então... Eu lancei um teaser, fiz o follow, e mandei bem no target.
- O retorno foi positivo?
- Opa... tava claro! Ia rolar: era quase um letreiro animado, um outdoor.
- E a interatividade?
- Eu tava empolgado, a veiculação foi rapidinha.
- E eu que imaginava que era só uma dupla falsa!
- Mulher é assim mesmo, o negócio é fidelizar. Sendo que você diversifica o mercado, mas mantém o impacto da sua marca.
- Veeishh...
22.3.08
Jornalista, eu?
Desta vez não filosofamos sôbre a vida e a morte e o subconsciente. Puxei conversa a propósito da colaboração semanal que Rosa iniciou em O Globo. Eu desejava saber, para meu gôverno, o que Rosa está sentindo diante dessa obrigação hebdomandária de um estirão de jornal assinado por êle. A reposta veio pronta: - Angústia. Concluí imediatamente: Rosa não é jornalista.
Explico-me. Para o jornalista, digo o jornalista de vocação, escrever não é obrigação: é necessidade. O jornalista quer escrever todos os dias, não pode deixar de escrever, se não escrever, morre entupido. Duas vêzes por semana apenas eu bato a máquina, à última hora, uma croniquinha pífia. Danado da vida. Não sou jornalista. Rosa nunca escreve senão caprichado. Por isso, mal entrega a sua colaboração da semana, começa a trabalhar na da semana seguinte. Ora, uma semana não dá para Rosa caprichar nas suas invenções verbais (há sempre invenções verbais em tudo o que Rosa escreve). Daí a angústia. Rosa confidenciou-me:
- Começo a escrever, um mundo de coisas, idéias, imagens, reminiscências, me acodem. Escrevo cinco, dez, quinze páginas. É preciso reduzir a três. Começo a cortar, começo a corrigir. Aí tomo gôsto. Nunca se acaba de corrigir. O meu desejo é então continuar a corrigir até o fim da minha vida. Mas há que entregar os originais. E no dia seguinte recomeçar coisa nova.
Eu sabia que era assim com Rosa. Sabia do que se passou com êle quando foi convidado a traduzir para Seleções um romance condensado. Era a história de um pássaro. Rosa mandou vir dos Estados Unidos o romance completo. Mandou vir também tratados de ornitologia. Fêz a tradução, reescreveu-a cinco vêzes. No fim saiu obra perfeita, coisa que não era no original. Mas Rosa gastou muito mais do que ganhou.
No caso de O Globo deve estar sucendo o mesmo. Escrever para jornal é como escrever na areia. Rosa não escreve na areia: Rosa grava na pedra. Para a eternidade. Assim, o que Rosa está fazendo em O Globo é, capítulo a capítulo, mais um livro, digno de ficar junto de Sagarana, Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas."
Bandeira
Seleta em prosa e verso
org. Emanuel de Moraes
21.1.08
Cachaça branca
e que a todo momento você fazia nascer sorrisos em mim.
Eles não eram conseqüência daquelas cócegas que eu sentia,
doces e leves, como após um gole de champanhe,
quando as bolhas brincavam em minha língua e no céu da boca.
Naquele instante, a minha embriaguez
tinha pouco a ver com qualquer quantidade de álcool que eu levava no sangue.
Em vez de trocar nomes, ressoava em mim apenas um
e eu tinha deixado de enxergar dobrado, para distingui-lo.
Com ares de coisa séria, falávamos bobagens,
depois, debochávamos de nós naquela situação.
De vez em quando eu recordava que não devia estar ali,
mas tratava logo de apagar a lembrança, soltando a minha cabeça sobre o seu ombro.
Eu fora leviana, mas você não parecia se importar e me aconchegava.
Como me lembrar dos outros e de mim, naqueles abraços?
Já sem o registro do tempo, deixava meu senso crítico se esvair a cada enlace,
porque só assim eles perdurariam.
Aquilo era tão previsto, quanto inevitável.
E mesmo errado, imperfeito e inadequado,
tinha acontecido.
Era bom de verdade.